por Edgard Leite, Diretor do Instituto Realitas
É possível contar uma nova história do Brasil?
Uma história que nos permita entende-lo e não estar apenas contra ele?
Acreditamos que sim.
Mas, para isso, é necessário que superemos a ideia de que a história é apenas conflito e que reconstruir o passado é reconstruir a história das desconfianças.
Na verdade a história é, também, a história da confiança, da necessidade dos seres humanos em atuar juntos, em estabelecer, com o próximo, elos que transcendam as diferenças.
Não são, as ações humanas, apenas atos de interesse material, mas também movimentos de gratificação existencial e espiritual.
Sem considerar essa dimensão do mundo, fazemos uma história que não é de humanos, mas de seres inexistentes. Seres sem dúvidas, angústias, particularidades, personalidades e sem uma inclinação para a busca da Eternidade.
É uma história de rochas, não de formas vivas. Formas vivas que buscam resolver o dilema posto pela inevitabilidade da morte.
A história é, também, a história do movimento humano de tomar boas decisões.
A recusa da realidade do mundo é apenas uma possível decisão a ser tomada na vida. A violência, o ressentimento e o ódio são sentimentos que sempre serão superados pela ternura, perdão e amor.
E não haverá existência sem essa superação.
As boas decisões são as decisões que constróem a história, estruturam as boas causas. Não se pode elaborar uma história sem dar a devida dimensão aos valores.
Valores que agreguem, que estimulem o encontro harmonioso do ser com outro ser, do ser com o mundo.
E deve-se considerar que, principalmente na história, existe um mistério diante do qual nossa tentativa de entendimento se torna frágil.
O mistério da própria existência, o mistério da vida, o mistério do extraordinário.
Sem ter esse mistério em mente, tudo que falamos sobre história é vento, vaidade, arrogância.
Podemos fazer uma nova história do Brasil sim, desde que essa história expresse a natureza paradoxal do ser humano.
Que não nos coloque contra ele, ou contra nossa história. Porque assim nos colocamos contra nós mesmos. Destruímos nossa sociedade mas, principalmente, destruímos a nossa complexa identidade. Nada seremos.
É preciso uma história que nos coloque a favor da vida, sua realidade, profundidade e mistério.
Na qual nos identifiquemos.
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