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A sobrevivência das boas teorias




Por Edgard Leite (Diretor do Instituto Realitas)


Existem muitas teorias, sobre a natureza da inserção do ser no mundo. Há infinitas teorias, na verdade. As teorias são sistemas abstratos, através das quais podemos entender e atuar sobre processos diversos.


E tantas são quantos são os sonhos de poder humano. Poder sobre outros homens, poder sobre o mundo.


É compreensível que se estabeleçam inumeráveis assim, porque os humanos estão sempre procurando o melhor para si e para os seus.


E o poder transfere, a quem executa uma teoria bem sucedida, uma determinada forma de ordenar o mundo. Isto é, o executor adquire alguma empatia com a natureza, adquire algo especial. Ou que julga especial: um certo predomínio sobre outros ou sobre as coisas, sobre as inspirações humanas, ajudando-as a realizar-se, ou sobre as quantidades, adquirindo dinheiro e coisas que dão prazer.


Há pessoas que tem essa capacidade de fluir pelos caminhos das teorias, apreciando a natureza que elas revelam. E se aproveitam bem de todos os meandros de ordem no mundo.


As tradições religiosas são circunspectas com relação às ilusões que emergem em todo esse movimento. Em grande medida porque há uma incompletude em tudo que há por aqui no mundo, mesmo naquilo que, na natureza, parece contínuo e ordenado. E que é o objeto da teoria.


Porque, mesmo ali, há inconsistências, mudanças, mínimas alterações no movimento, que tornam tudo fugaz. Nenhuma teoria é perpétua. Na verdade, todas as teorias são efêmeras. Porque são efêmeras as realidades que elas traduzem.


Essa realidade de fim das coisas não deve, é claro, desanimar os homens no mundo. Porque existe uma razão para estar nele, que podemos, pela revelação, pela razão, discernir, em diferentes graus.


Temos uma natureza a ser realizada, temos um destino que se percebe a cada dia, uma dimensão maior de existência, uma vida eterna a ser cumprida, para além desta. Muitas coisas.


Mas em todas elas, meditam circunspectos os sábios, há essa mancha silenciosa do fim, da morte.


Podemos ter causas nela, na morte. Orientar vidas para matar, orientar minhas ações para destruir. Mas, o que será disso?


As religiões, portanto, sempre cautelosas, apontam o mistério das coisas como supremas causas. O enigma recorrente que nos possibilita, inclusive, a existência de teorias, da ordem. Que não vem deste mundo, mas de fora dele.


Há alguma coisa, nos dizem sempre os que veem além dos limites do mundo. Coisa que continua. Cuja lógica envolve a desse mundo, e lhe dá o seu sentido enigmático.


Todo fluxo da história humana pode ser, assim, moralizado? Claro. A partir de um sentido que transcende a ordem efêmera do mundo.


Porque há claramente teorias que são boas, e que funcionam naquilo que é movimento contínuo de vida no mundo natural.


E nos aproximam de coisas boas, e agregações, e a vivência de bons sentimentos que duram. Coisas que estão além do mundo e em todas as teorias. Que atravessam os anos e as desagregações e sobrevivem após a morte.


Mas há também teorias que acompanham a morte, retiram dela essa força destruidora e constroem, com ela, estruturas fragmentada de dor e sofrimento. E perambulam pelas mentes, neste mundo.


A tradição bíblica, como outras tradições, aponta um caminho moral, como o caminho por excelência do homem, que o irmana com o próximo, diante de algo maior.


Os seres humanos adquirem sentimentos ruins com relação a outros? Sempre. Porque são vaidosos, arrogantes e acreditam que a fragilidade alheia não existe dentro de si. E que podem ter infinitos poderes.


Mas como, moralmente, podemos mostrar os equívocos dessas inclinações?


Certamente não estimulando o ódio, nem mostrando que no fundo os homens se odeiam e os que odeiam devem morrer.


O que é absurdo, pois mesmo aqueles que apontam os ódios alheios também podem odiar.


Mas, assim nos ensinam as boas teorias, mostrando que somos todos iguais, na vaidade e na efemeridade, e que caminhamos todos juntos nessa perplexidade da existência, tentando encontrar o movimento do bem.


Isso não prescinde das guerras. Pois são, muitas vezes, estas, questão de sobrevivência. Mas as guerras são ordenações que exigem causas, moralidade, esperanças e percepção aguda de um destino.


E as ganham sempre aqueles que triunfam na sua moralidade. Porque andam junto a essa lógica superior que triunfa sobre o mundo.


Ela contém, em sua eternidade, a grandeza desses valores que, em nós, nos tornam parte, mesmo fragmentada, de algo que nunca se fragmenta.


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