A Universidade infinita
- Edgard Leite Ferreira Neto
- 8 de jun.
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A Universidade é uma instituição infinita, em suas antiguidade, multiplicidade de destinos e objetivos e complexidade de estrutura. Embora seja, hoje, universidades nacionais, muitas, disciplinadas por legislações e inclinações próprias de cada país, e regionais, entranhadas em realidades específicas e absolutamente singulares, a estrutura da Universidade se espalha entre tempos e sociedades.
Não é difícil ver nessa multiplicidade de prédios, campi, alunos e professores, falando em diferentes idiomas e vivendo em diferentes temporalidades, uma forma institucional definida que aglutina interesses diversos de saber e de realização intelectual. As universidades de Bolonha, Oxford, Paris e Coimbra, pioneiras, são marcos históricos de onde surgiu uma rede metainstitucional cuja sinergia é evidente, em que pese todas contradições: gravitam em torno da produção de conhecimento. Mas, mais corretamente, movimentam-se em torno da verdade.
Expressando o caos das decisões humanas e o desordenado de suas concepções, o seu sentido é mantido na pertinência de seus objetivos maiores. Teses do século XVI nas universidades alemãs podem ser entendidas como teses universitárias por aqueles que aqui, neste tempo, as leem, mesmo que muitas de suas questões já não se coloquem e possam, mesmo, ser consideradas obscuras. Mas o ímpeto de seus autores, o encantamento por produzir algo que possa avançar nos temas e nos métodos, ou que retroceda, em alguns momentos, por parecer necessário, é reconhecível. Trata-se de um encantamento direcionado na busca de sistemas que possam ser reconhecidos, ignorados, honrados ou vilipendiados, tanto faz, com o passar do tempo, mas que está presente em cada momento da história e da existência da Universidade. Incontáveis laboratórios e salas de aulas e professores e alunos conversaram, estudaram e produziram. E sempre tiveram em vista a verdade, a verdade do que estudavam, uma convergência entre aquilo que é e o que entediam ser.
Tardiamente entrados nesse processo, os brasileiros não estão, no entanto, desconectados dessa rede e de seus propósitos. É um grande esforço, para todos aqui, avançar nesse movimento que começou na Idade Média e transformou o nosso mundo nisso que somos, pois o mundo iluminista no qual vivemos é fruto da universidade e foi por ela ampliado, questionado e criticado. Em suas diversas fases a Universidade não tem como ser algo diferente do que uma contínua experiência que avança com os séculos, expressando a própria jornada humana no tempo. Aqui, neste país, estamos no início de um processo que já tem mil anos, mas, ao mesmo tempo, já estamos nele inseridos.
Nos conectamos de forma continua com diferentes espaços e distintos tempos e lutamos para preservar, na autonomia universitária, na autonomia do cientista, aquilo que deve ser preservado: a liberdade de continuar produzindo, de acordo com nosso livre e pertinente entendimento. Os inimigos das Universidade nunca foram fortes o suficiente para impedir o seu desenvolvimento, porque dependem também daquilo que ela representa e constrói: o movimento por entender a verdade do mundo e por ela transformar a vida do Homem.