Edgard Leite Ferreira Neto
Todos os ódios humanos se desfazem com o tempo. A percepção da fugacidade da existência, quando nos abrimos ao mundo, é muito esclarecedora sobre como as coisas fluem e desaparecem, logo depois de qualquer coisa ocorrer. O ódio é breve, de fato, porque é breve o momento. Entregar-se ao ódio é tão insensato quanto tudo que se faz tendo como foco exclusivamente o mundo.
Há um livro muito interessante, de Marguerite Yourcenar. Se chama Memórias de Adriano. Trata-se de uma autobiografia, imaginária, do imperador de Roma, César Adriano Augusto (76-138). A autora o vê com simpatia, o que é bonito, porque todo ser humano deve ser visto com alguma ternura, mesmo Adriano.
Mas o livro atribui à Adriano uma certa sensatez, uma inteligência espiritual ou afetiva que um leigo pode se permitir duvidar. Como é sensato um homem que se faz representar como um deus? Alguém sussurra que era obrigação pública. Mas que sociedade é sensata que representa seus líderes como deuses? Ou, onde está a sensatez de um mundo que acredita que os seres humanos são capazes de tudo fazer, como deuses?
Tudo, de fato, feito no mundo, é fugaz, porque a matéria se transforma, se decompõe, e as pessoas se vão. Assim ""é breve o ódio", como bem escreveu Gabriela Mistral. Igualmente também é breve a arrogância, que São Josemaria Escrivá disse ser “o pior e o mais ridículo dos pecados”. Há, no orgulho, uma recusa peremptória à realidade do mundo e à maneira correta de vive-lo, e da arrogância vem o ódio às coisas que são como são. E é patético, porque o orgulho se esvai a cada minuto diante da grandeza devoradora do tempo.
O ódio e a arrogância trazem uma sensação de vazio que só pode ser superada pelo amor e humildade. Ambos sentimentos implicam na transcendência dos desafios do mundo. “É infinito o amor”, completa Gabriela Mistral, e nessa infinitude, nos colocamos, como dizia São Josemaria, como “barro, recomposto com grampos” e isto, explica, "é fonte contínua de alegria; significa reconhecer-se pouca coisa diante de Deus”. O mundo pode ser transitório, mas o que nele fazemos, com amor e humildade, é expressão de algo infinito. E isso, apenas, permanece, como algo que faz transparecer a eternidade e funda a autêntica sensatez.
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