A pessoa não pode ser facilmente controlada.
Proibições, no âmbito da vida política, quando estabelecidas por agentes civis, nunca podem ser totalmente exercidas, pois a pessoa sempre pode decidir pela desobediência. A lei, certamente, funciona na direção dissuasória e a censura no sentido de impedir acesso a informacões que possam justificar decisões transgressoras. Mas são suficientes? Evidentemente que não.
Primeiro porque a excessiva dureza das leis mostra a dificuldade dos legisladores em administrar as consciências apenas pela persuassão, pelo convencimento: exibe uma carência de argumentos suficientes na defesa de suas proposições. E tal dificuldade inquieta a pessoa, que identifica a incongruência e quer superá-la.
Segundo, e isso nos interessa particularmente, porque a censura expressa a crença de que, proibindo determinadas ideias ou informações, conseguirá o censor destruir justificativas para decisões. Esta ação é ainda mais complicada que a simples dureza da lei, pois o proibido exerce enorme poder de sedução. A censura agrega um elemento emocional ao processo: o desejo de conhecer e saber o porquê da proibição.
A história está cheia de exemplos nos quais a criminalização do ato de querer conhecer, e a penalização para quem o faz, usualmente tem efeitos contrários ao desejado. A proibição de um determinado livro, por exemplo, pode estar coberta de razões. Mas nada ajuda mais na sua divulgação do que o ato de proibi-lo. Uma censura pode não apenas promover uma obra, mas também consolidar suas propostas num mundo crescentemente curioso em saber porque foi censurado e que tipo de desafio uma pessoa enfrentaria ao le-lo. A curiosidade também é natural no Homem.
É prudente, portanto, evitar a censura. Não apenas porque o ato de censurar cria uma tensão perigosa na consciência humana, que deseja o proibido, mas, principalmente, porque revela uma fragilidade. A censura aponta, na coisa censurada, algo que pode revelar essa fraqueza e, mais ainda, nela reconhece uma força que não pode ser vencida com qualquer argumento que o censor possa dispor. O censor expressa, no ato de censurar, a consolidação do fracasso de sua liderança na solução de uma crise, circunstancial ou sistêmica. Não é, evidentemente, vitória. Mas pura derrota.
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