A Academia Brasileira de Filosofia tem uma grande missão, no Brasil em que vivemos: promover e apoiar a abertura de novos horizontes para o pensamento filosófico brasileiro.
E isto o fará abrigando proposições intelectuais inovadoras e criando espaços e mecanismos que possam elevar a qualidade da vida intelectual do nosso país.
Foi este, sempre, o objetivo de nossos fundadores.
É este o objetivo da administração eleita, preocupada com a crise intelectual contemporânea.
A necessidade de um espaço onde o pensamento possa se desenvolver livremente, sem proibições e sem entraves, não é apenas uma necessidade brasileira. Mas está colocada plenamente no atual momento do pensamento ocidental.
A nossa Academia está destinada a ser um espaço dessa natureza. Um espaço de liberdade.
A tentativa de imposição de um pensamento hegemônico, com pautas obrigatórias e inquestionáveis, inibe o movimento criador da consciência, deforma a produção intelectual.
Principalmente por conta do culto à superficialidade ideológica, pelo ataque à intimidade criadora, pela insistente negação do mistério do ser e pela deliberada imersão da consciência na ilusão arrogante de que tudo pode.
Neste momento de desenvolvimento de uma rede global de circulação de informações, abrem-se muitas possibilidades para a difusão de conhecimento relevante. Que contribua para que o ser possa encontrar a si mesmo, com liberdade e consciência.
A Academia Brasileira de Filosofia deve participar desse processo de elevação da qualidade das dúvidas e das informações disponíveis, de maneira a fortalecer vetores que favoreçam a meditação consistente.
Somos os responsáveis pela manutenção da Casa de Osório, prédio tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Devemos nos esforçar não apenas pela manutenção de sua integridade física, mas também para que esse prédio histórico se torne tanto um espaço de memória da filosofia brasileira, quanto um polo irradiador, no qual o conhecimento possa ser acolhido, produzido e difundido.
A Academia Brasileira de Filosofia tem um compromisso com a liberdade e a pluralidade, e deve inspirar e apoiar instituições e pessoas que pretendem ir além daquilo que atualmente predomina no universo das ciências humanas no Brasil.
No momento atual gasta-se muita energia no estabelecimento de espirais de silêncio, na neutralização, pelo medo, de pensamentos dissidentes, na recusa de diálogos e na imposição de um universo ideológico inalcançável pela dúvida.
A imposição do silêncio é inútil. Apenas reafirma o poder da dissidência, do pensamento consistente e persistente, que é desafiador e livre.
Ao nosso ver essa energia deve ser melhor gasta na criação, no esforço para desenvolver perspectivas, sistemas e na proposição de problemas.
E é em tal direção criadora que pretendemos concentrar nossos esforços.
A Academia Brasileira de Filosofia é composta por alguns dos maiores intelectuais brasileiros. Em nossas cadeiras passaram pensadores dos mais eminentes na história recente do Brasil.
Somos responsáveis pela memória de nossos membros já falecidos, tão diversos entre si, em suas perspectivas. Mas tão convergentes no esforço de elevar a qualidade da vida intelectual brasileira. Cabe-nos reverenciá-los e preservar o seu pensamento.
E também nos cabe, a nós, os vivos, membros da Academia Brasileira de Filosofia, zelar pela integridade e pertinência de nossas trajetórias intelectuais, igualmente diversas, mas todas consistentes.
O nosso compromisso, portanto, com a liberdade de produção de conhecimento, com a sensatez, respeito e reconhecimento, é absoluto.
Convidamos todos os interessados em fortalecer o universo intelectual do nosso país que apoiem a Academia Brasileira de Filosofia, nos seus esforços em difundir e consolidar os grandes temas da meditação brasileira e estabelecer um patamar de alta qualidade para a reflexão intelectual no Brasil.
Ad Veritatem, Na direção da Verdade. Este é o lema da nossa Academia.
Pedro Abelardo (1079-1142) escreveu que “pela dúvida chegamos à pergunta, perguntando percebemos a verdade” (Sic et Non: Prologus).
Só há dúvida quando há liberdade, e só há pergunta quando há conhecimento.
E assim podemos caminhar na direção da verdade.
A defesa da liberdade e da produção e difusão de conhecimento pertinente, portanto, deve ser o fundamento da nossa prática acadêmica.
Cabe-nos lembrar, a todos, que em 2022 celebraremos os duzentos anos da independência do Brasil e devemos refletir sobre a grandeza de nosso pensamento, sua história, suas questões e seu futuro.
É preciso fazer justiça à longa e inquieta história da meditação brasileira. É essencial que nos esforcemos para engrandecer essa vocação intelectual, e promover a consciência, entre nós, das grandes questões que a animaram e a animam. E promover novas.
Gostaria, por fim, de agradecer àqueles que tornaram possível essa retomada de rumos na Academia.
Inicialmente a todos os acadêmicos, pela confiança depositada na nossa proposta de atuação. Confiança que não será traída.
Especialmente, às confrades Ana Maria Moog e Nélida Piñon, e aos confrades Carlos Nejar, Gilberto Mendonça Telles e Ricardo Velez Rodriguez. Deles veio o apoio fundador e decisivo.
Também devemos agradecimento aos confrades Julio Stern e Itala D’Ottaviano, pelas muitas horas de conversas.
Entre os nossos doutores honoris causa e membros honoris causa, cabe-me agradecer os apoios de Daniel Miguel Klabin, Herman Glanz e Luís Mauro Gomes, todos de primeira hora.
Devo também agradecer aos demais integrantes da diretoria eleita, nosso Vice-Presidente, Guilherme Louis Wyllie Medici, nosso Chanceler, Jorge Trindade, nossa Diretora de Pesquisa, Maria de Lourdes Corrêa Lima, nosso Diretor de Relações Internacionais, Paulo Alcoforado e ao nosso querido e sábio decano, diretor de projetos, Nelson Mello e Souza.
Conscientes dos imensos desafios que temos pela frente, entre nós foi estabelecido um compromisso sólido e uma confiança imensa no feliz destino da Academia Brasileira de Filosofia.
Devo aqui, também, dedicar um reconhecimento especial ao nosso decano e fundador, mestre Antonio Paim. Sem sua inspiração não existiria a Academia Brasileira de Filosofia.
Gostaria, por fim, de evocar as memórias de nosso confrade, fundador e primeiro presidente, proclamado, em outros tempos, Presidente de Honra Perpétuo, Jorge Jaime de Souza Mendes, de nosso estimado Presidente João Ricardo Moderno e, pessoalmente, de Antônio Carlos Villaça, responsável pela minha presença nesta instituição.
Continuamos a jornada iniciada há trinta anos. E que, a depender de nós, continuará mesmo quando não mais estivermos aqui.
Possamos estar sempre juntos em defesa do livre e plural crescimento e pelo fortalecimento do pensamento brasileiro!
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