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Dissentir




Edgard Leite Ferreira Neto


Tudo é mais fácil quando aderimos à corrente dominante num determinado ambiente histórico, ou num meio. Isso não é um segredo, é uma contínua realidade da vida. Em si não é algo ruim, mas uma necessidade que temos para evitar o isolamento ou seguir um caminho que nos parece bom.


A questão não está em tal movimento, mas sim na natureza das correntes dominantes. As pessoas tem personalidades, dificuldades, inteligências diferentes. Objetivos existenciais distintos. Aderir à corrente dominante significa graus diferentes de limitação à personalidade, à inteligência e aos objetivos de vida. Em alguns casos, em função da natureza da corrente, ou da personalidade, torna-se impossível a adesão sem que o ser desapareça, sem que este seja destruído. Eventualmente, aderir à corrente dominante é, portanto, não apenas difícil, mas impossível.


Há diferença, em nosso mundo, entre aderir à instituição ou às correntes que podem vir a dominá-la. É possível priorizar a primeira sobre a segunda. Mas isso nem sempre é suficiente para aliviar o ser de um massacre contínuo. Porque o problema está também na forma como as correntes dominantes lidam com a liberdade do indivíduo. Com o respeito àquilo que ele é, pensa ou sente.


Dissentir é tão normal quanto aderir. Não se pode evitar que as particularidades se tornem evidentes, que a liberdade tenha esse movimento contínuo para ser exercitada. A lei sempre puniu os seus excessos, mas raramente, na história, admitiu a possibilidade de proibir essa possibilidade.


É importante que o direito de dissentir seja garantido, pois ele expressa uma dimensão essencial da natureza humana: a misteriosa e universal capacidade de escolher. Sem esta não há ser.

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