Edgard Leite Ferreira Neto
A força de um projeto reside na clareza que se tem sobre seu objetivo. Sem uma visão precisa desse alvo, desde antes da elaboração do próprio projeto, o desenvolvimento do mecanismo para alcançá-lo pode tornar-se obscuro, o que compromete a sua realização. Podemos até alcançar algo, mas esse algo não será exatamente consistente, para nós e para o mundo. Ou pode-se nada alcançar.
Não se atinge essa profunda compreensão do que se quer realizar sem um movimento qualquer, prévio, de inquietude íntima. Onde se alcança um foco. Não se precisa ter um conhecimento profundo do alvo. Pois senão nem se realizaria o projeto. Mas é necessário um foco, uma delimitação aguda do tema no meio das incertezas e de muitos outros objetivos.
O foco exige contenção, restrição e, também, humildade. Contenção porque é necessário delimitá-lo e humildade porque também é preciso reconhecer uma ignorância diante
do objeto. A ignorância é sobre o que ele será, na verdade, ao ser alcançado. Isto nos coloca a busca dos procedimentos para a sua solução como algo a ser pensado de forma profunda, do ponto de vista do método. Esse movimento é exaustivo, e consome muita informação não propriamente ligada ao objetivo. Mas humildade também porque quem trabalha deve estar aberto à continua presença do extraordinário. E o extraordinário é nossa morada.
Também é necessário confiança absoluta no alcance do objetivo. Uma confiança que é interior, não ligada à vaidade, mas sim a algo que existe no ser e que se resolverá para melhoria da vida ao longo do desenvolvimento do projeto: a intimidade com Deus, por exemplo. Algo que nos transcenda e sirva a algo maior que nós.
Os projetos no mundo são bons quando realizam o ser e para isso deve se ter confiança: a de que tudo conspirará para que essa missão seja cumprida. Porque é destino do homem a realização do seu brilho interior e próprio. Por isso o projeto deve conter a esperança de alcançar o objetivo proposto, um sentimento prospectivo no qual se coloca a certeza da sua realização. E, principalmente, deve-se gostar dele, amá-lo, a ponto de que tudo que para ele se dirija acabe sendo virtuoso e sobreviva, para além de todas as dificuldades possíveis, e mesmo que o sucesso não seja reconhecido por outros.
Há projetos que são de momento, outros de médio prazo. E há projetos de vida inteira. Seria bom que os jovens fossem convidados a pensar sobre suas ansiedades mais íntimas, mesmo antes que pudessem formulá-las. E por isso é pertinente a pergunta: “o que você vai ser, quando crescer?”, pergunta que faz sentido sempre, mesmo depois de "crescer". Porque a pergunta se transforma num tema existencial, que se reveste de ansiedade profissional. Mas que, por ser interior, deve se submeter, com grandeza, às questões mais essenciais da alma humana, e não permitir que estas sejam sufocadas com as imperfeições eventuais do mundo.
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