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Vencendo o mundo, escolhendo a vida



Edgard Leite Ferreira Neto


A fragilidade humana diante da vida é contínua. Se acreditamos apenas no mundo, nos seus processos sempre interrompidos pelo fim, pela morte, tudo é insegurança. A ideia de que a vida é uma coisa banal, decorre, em grande parte, da insistência de que só existe fim. Em tal concepção, algo que se inicia no mundo e nele termina não possui razão pela qual deva existir mais do que qualquer outra coisa existente, que também tem fim. Porque é indiferente a sua existência ou não existência. A vida humana passa a ser vista, portanto, da mesma forma como vemos o fim de um eletrodoméstico, algo que apenas termina, e é reposto. O fim, a morte, se torna a única realidade possível. Isso é fatal para o ser e para o seu mundo interior, já que destrói o humano e o torna apenas um animal, um ser desprovido de liberdade. Porque não há liberdade diante da morte no mundo: ela é inevitável.


Mas é a liberdade que caracteriza o ser humano. Isto é, a sua capacidade de escolher aquilo que o ergue da sua condição de animal, de tomar decisões de cunho ético e moral. E isso é sustentado por Deus, na Bíblia: "os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Dt 30:19).


Essa reveladora passagem do Deuterônomio estabelece que há sim, algo mais que a morte no mundo. Há vida, uma vida de escolhas. E essa vida é eterna, infinita. Transcende o mundo. Assegura a continuidade da existência, tanto neste espaço de transitoriedades quanto em uma outra realidade. Sua origem, por ser vida, não está neste mundo visível, marcado pelo fim, mas fora dele, e continua para além da morte, para além dele. Seus princípios estão estabelecidos na eternidade, e viver de acordo com eles é dar à vida neste mundo o significado que, embora misterioso, lhe é próprio e é profundo.

Tal entendimento permite a superação da ilusão de que tudo começa e termina aqui. Temos em nós essa benção, a vida, e o que a torna vida: uma alma soprada por Deus.


Os direitos verdadeiros são aqueles que nos permitem viver a vida e aceitar essa benção. Não na direção de negá-la, pois para isso não são precisos direitos: basta se entregar ao mundo. Mas no sentido de vencer este mundo: "maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (1Jo 4,4). Essa silenciosa e transparente realidade, que é redentora, ilumina as trevas, nos ata à vivência da eternidade. Dissipa toda fragilidade e temor. Nos inspira a sentir a absoluta sacralidade da existência. Só há, acima de tudo, vida. Sua origem está além do embrião. Quando este começa a se formar já contém a essência, que anima a poeira e a cinza que configura o corpo, como uma benção misteriosa de Deus. A vida é sagrada. Porque é infinita, desde seu princípio, e, em função de nossa liberdade, torna-se imortal, para além de seu fim.

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