A fonte da esperança, a dissolução do medo
- Edgard Leite Ferreira Neto
- há 6 dias
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Tudo perceber como efêmero, tudo entender como repetição de coisas transitórias, é uma forma, aceitável, sempre, de entender a vida. Nesta, apenas vivemos as circunstâncias e somos gratificados, porque todos os eventos tem, de certo, essa luminosidade que precede o seu colapso contínuo. É claro que podemos nos concentrar no prazer do instante ou na dor do seu fim, mesmo que essas experiências sejam aquelas que constroem usualmente a angústia, ou medo, diante do que virá a seguir, ou a dor contínua decorrente da perda do controle daquilo que se gozou no instante passado. Mas a realidade disso nos comove e nos estimula a agir de forma intensa.
É natural, no entanto, que exista uma revolta contínua contra esse sofrimento recorrente, que gera euforia ou depressão, mas que torna cada segundo uma experiência dolorosa, cujo sentido parece ser apenas viver um fim infinito, que muitos, até, por decepção, anseiam que se encerre na morte definitiva. Que aliás, sempre se entendeu como descanso, ou sono, eternos.
Tantas vezes falamos aqui, no entanto, sobre a vaidade que caracteriza esse tipo de jornada, toda ela fundada na arrogância. Esta é uma experiência antipática, que busca sobrepor a consciência às rupturas que acontecem em todos os lugares, ao deslocamento contínuo de tudo que nos cerca e que somos neste mundo material. Tentamos o domínio dessas mudanças, pela vaidade, mas em vão. Então buscamos a guerra permanente contra o desmoronamento do momento, contra tudo que nos contradiz ou aponte a transitoriedade do que pensamos e somos.
Mas ser assim é responder apenas de forma reativa a esse movimento que reconhecemos e entendemos como próprio do mundo em que estamos. Atuando através dessas práticas aceitamos uma realidade que nos permite e mesmo exige ver as batalhas cotidianas como combates permanentes contra as circunstâncias e contra o tempo. Certamente podemos ter algum domínio das circunstâncias, mas não podemos ter o controle do tempo, pois este apenas mede a transformação inevitável das coisas. O sair continuamente de onde estamos para um outro lugar, como entendeu Aristoteles.
Mas sempre se pode viver de outra forma. A crise do eterno retorno desaparece quando nos voltamos para a eternidade, a prova evidente de que não há apenas morte no mundo, mas sim existência infinita. Sem princípio nem fim. E aqui há uma esperança que nasce e cresce, de forma consistente, emanando dessa dimensão imaterial. Profunda e sem tempo. Diante dela tudo, no material, é de menor sentido, pois algo que está além dessa realidade de rupturas, percebemos, é contínua serenidade, e esta, pela esperança, ilumina nossa consciência. Dissolve a dor e nos permite viver na dimensão que não tem fim, que é apenas fonte eterna de um instante místico. É essa realidade absoluta, sem qualquer ruptura, que nos permite caminhar em absoluta paz e sem medo por este vale do mundo material. Pois de lá nascemos e para lá nos dirigimos.
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