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Centros de gravidade



Edgard Leite Ferreira Neto


A percepção da realidade do Mal no mundo não é difícil, quando contemplamos o que nos cerca com razão e algum entendimento, mesmo que rudimentar, sobre o que vem a ser o certo e o bem. Amplos setores da nossa sociedade estão imersos na escuridão. Muitas pessoas andam perdidas nos seus próprios desejos e vivendo em fantasias que gravitam, sempre perigosamente, em torno das coisas mais rudimentares desse mundo. Como essas coisas se dissolvem sempre, esse centro gravitacional está sempre colapsando, e as fantasias pessoais também.


Que esse sofrimento contínuo seja adorável para tantos é compreensível, porque os momentos de prazer parecem recompensar os momentos de interrupção e de busca, de sofrimento. É claro que esse sofrimento se torna a cada momento mais insustentável, e mais alucinado tem que ser o prazer, mas esse círculo contínuo e crescente de dores, mesmo prenunciando, em si, o inferno, é entendido como suportável pelos fragmentos de satisfação, mesmo que cada vez mais custosos.


A existência de um tráfico internacional de drogas, ou de um comércio de drogas legais, permite a administração desse processo. Pelo seu efeito geral, anestésico. Mas não impede que nele se desenvolva todo tipo de sentimentos ruins, que se retroalimentam permanentemente. Estes correm como ondas pelo mundo e pelas mentes das pessoas que nele vivem.


Todos são atingidos por essas ondas, principalmente porque elas vem de todos os lugares. Daqui da rua, dos prédios vizinhos, do computador na minha frente, da televisão, dos gabinetes daqueles que tem poder. É tão difícil resistir a isso que o mundo todo parece, em alguns momentos, se esvair, fragmentar num caos de pecados, porque as ondas deixam, atrás de si, consciências destruídas e corpos profanados. Se gravitamos em torno disso tudo, não há esperança, realmente. A não ser a morte absoluta de qualquer dignidade e bondade num inferno contínuo, pois embora prestemos atenção ao prazer, apenas, é o inferno que perdura e continua. Após a morte, inclusive.


Quando contemplamos o mundo com razão e fé, no entanto, e nos distanciamos, portanto, da essência dessas ondas, mesmo que elas também passem por cima de nós, e entrem em nossas mentes, mas quando preservamos nossa consciência e almas dessa dilaceração contínua, é evidente que podemos perceber que há uma fonte em todo esse movimento. Podemos percebe-lo porque não gravitamos em torno do mundo, mas em torno da eternidade. O movimento que inspira nossa contemplação tem outra origem, que não é a mesma dessa tempestade de desejos e sofrimentos.


A clareza da percepção das virtudes nos permite reconhecer que gravitar em torno do Eterno nos concede paz. E Ele nos protege dessas ondas imensas. Sabemos que essas ondas vem de um lugar, onde habita o Mal. Mas nossos olhares se fixam na grandeza do supremo bem. E em torno dele gravitamos. E por isso não tememos as ondas, e por mais que elas nos atravessem, delas saímos sempre incólumes, porque esse centro nos protege e cuida.

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