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História e escolhas



Edgard Leite Ferreira Neto


A história é uma sucessão infinita de tomadas de decisões, realizadas por homens e mulheres, adultos e crianças. Mudam-se os tempos e os costumes, mas as decisões continuam sendo tomadas. Há momentos em que se pretende que ninguém possa tomar decisões, a não ser aquelas autorizadas. Em outros momentos todos tomam as mais incríveis decisões, de forma aleatória. Mas não há como, no entanto, suprimir essa inquietude profunda que todo ser humano tem, sem exceção, de decidir, de exercer sua liberdade de escolher.


Por isso mesmo, as legislações buscam estabelecer os limites dessas escolhas e penas para quem as viola, ou toma decisões não permitidas. Mas não consta que qualquer legislação tenha em algum momento tentado suprimir a possibilidade de escolher. A importância imensa dos Dez Mandamentos, portanto, na história das leis, está em apontar que, para além das razões do mundo, que podem fundamentar as decisões, existem princípios que estão além do mundo e que devem servir de referência para as atitudes aqui.


O certo, o ético, e o bom, o moral, remetem a uma ordem maior do cosmo, e que também está no ser, de forma convergente, como lei natural. Observando esses princípios éticos e morais superiores, se sintonizam os homens com a inteligência absoluta, Deus. E, como fica claro, na Bíblia e na tradição filosófica cristã, também os sentimentos se organizam com essa instância maior, principalmente a partir da Fé, da Esperança e do Amor. Mas isso é, acima de tudo, uma escolha.


Pode-se resistir a essa realidade absoluta, e se resiste sempre, pois o mal e o errado são extremamente poderosos, mesmo que todos, que nessa direção caminhem, arruinem sua existência e a dos outros. Mas a verdade é que a história também é isso: uma sucessão infinita de atentados contra a harmonia que deve se verificar entre o homem e Deus na observância daquilo que é certo e bom.


Gustavo Corção, num livro chamado O Século do Nada, manifestou sua angústia por tantas revoluções que assolaram as sociedades, durante o século XX, todas dirigidas para a realização exclusiva das coisas do mundo, isto é, do nada. Mas, há como impedi-las e deter a destruição que elas trazem?


Nós só conseguimos responder pelos nossos próprios pecados, não pelos dos outros. Não há como impedir que alguém, deliberadamente, pense e atue como queira. E quando se abrem comportas morais, e essa abertura permite que o erro flua de forma descontrolada, apenas na nossa intimidade podemos a ele nos opor.


Mas isso não significa que as sociedades não possam ter a dimensão dos seus erros e administrá-los, e controlá-los. Mas isso se dá pelo exemplo da boa conduta de muitos, que podem apontar o correto caminho e, é claro, contando com a graça de Deus. "Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor e o povo que ele escolheu para a sua herança”(Sl 10:12). E a percepção da serenidade e da paz que emerge do bem pode sim ser exemplo capaz de impedir a disseminação do erro.


Porque há escolhas feitas, na história, que dão ao ser humano autentica prosperidade: aquelas que se harmonizam com as intenções de Deus. Nas quais os homens se erguem praticando o bem e o certo, com profunda percepção de sua origem, no espírito de Deus, e tendo em vista um retorno a Ele, para além do tempo e da história. A afirmação desse caminho, e a constatação de seu sucesso é a única forma de impedir que as decisões erradas venham a destruir o mundo.



(Ilustração, Joana D'Arc, no patíbulo)

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