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A viagem dos magos, nossa viagem, segundo T.S.Eliot



Edgard Leite Ferreira Neto


Thomas Stearns Eliot (1888-1965) escreveu um poema muito profundo sobre a viagem dos magos, esse misterioso acontecimento narrado em Mateus. Como se sabe, "uns magos vieram do oriente”, para adorar o “nascido rei dos judeus”, “porque vimos sua estrela no oriente”(Mt 2: 1+).


Não se sabe bem quem eram, mas isso não é particularmente importante. O que importa é que vinham de um lugar remoto, de um mundo que, até aquele momento, fora mantido distante da palavra do Deus de Israel. A sua jornada foi como a de Abraão: se moviam da ignorância para a redenção e o faziam sem saber ao certo porque o faziam. Mas levados por uma necessidade interior.


Quando dizemos que a procura da essência é fundamento, o fazemos não porque nela estamos imersos no cotidiano ou somos a tal caminho convidados pelas instituições ou pela cultura, mas sim porque não a vivemos e não recebemos tal convite do mundo. Poucas coisas, especialmente neste tempo presente, nos estimulam a procurar o fundamento, apenas nossa inclinação interior o faz. E, por isso, T.S.Eliot entendeu os magos como originalmente residentes num meio hostil, acima de tudo:


“Foi um frio que nos colheu

Na pior quadra do ano

Para uma viagem, e longa era a viagem:

Os caminhos submersos e o tempo adverso

Em pleno coração do inverno”


No frio deste mundo, em caminhos pantanosos e contra a corrente, é necessário seguir, para que, exatamente?


"Ao fim preferimos viajar à noite,

Dormindo entre uma e outra vigília,

Com vozes que cantavam em nosso ouvido, dizendo

Que tudo aquilo era loucura”.


Basicamente porque algo, que pode ser entendido como loucura, por aqueles que não seguem o caminho, os movia.


"Tudo isso há muito tempo se passou, recordo,

E outra vez o farei, mas considerai

Isto considerai

Isto: percorremos toda aquela estrada

Rumo ao Nascimento ou à Morte? Um nascimento, é certo,

Tínhamos prova, não dúvidas. Nascimento e morte contemplei,

Mas os pensara diferentes; tal Nascimento era, para nós,

Amarga e áspera agonia, como a Morte, nossa morte”.


A descoberta da essência, o seu nascimento para nós, é outro tipo de descoberta, diferente das descobertas que fazemos por aqui. O nascimento do mundo, no mundo, e a morte das coisas, nas coisas, são experiências “amargas e ásperas”. Mas o nascimento da essência no nosso entendimento, no visível, bem como sua morte, neste mesmo visível, são outro tipo de nascimento e morte. Porque a essência é Deus.


"Regressamos às nossas plagas, estes Reinos,

Porém aqui não mais à vontade, na antiga ordem divina,

Onde um povo estranho se agarra aos próprios deuses.

Uma outra morte me será bem-vinda”.


Quem conhece a verdade, diz T.S. Eliot, vive na estranheza do mundo. O nascimento e a morte adquirem outro sentido. Por isso o mago considera, circunspecto, que “outra morte me será bem-vinda”. Fala da morte da essência, em Jerusalém? Mas da sua própria morte? Também provavelmente. Porque o sentido das coisas se transformou e, entre elas, a percepção da vida e da morte..


A viagem dos magos é nossa viagem.

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